quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

DEIXAR-SE CUIDAR

Meu marido teve uma crise renal e ficamos no Life Center por umas 6 horas, ele no soro tomando uma batelada de remédios e eu observando a movimentação. Citei o hospital porque este é – ou propaga ser – uma referência em atendimento hospitalar: prédio novo, instalações ultra-modernas, atendentes com belos e irretocáveis uniformes (que não maquiam a impaciência e a raiva por estarem trabalhando em pleno domingo à noite, como se dor escolhesse hora pra chegar), três médicos para atender um bando de gente que deu piripaco bem no finzinho do fim de semana. Também eita hora ruim pra adoecer...
Na sala de observação dos doentes total falta de privacidade pr’aquele que está se contorcendo de dor - vinte poltronas e camas bem próximas umas das outras, mal deixando espaço pro braço esticado com o soro. Todos ouvem e alguns até palpitam e comentam sobre a moléstia do vizinho. Uma lástima. O plano de saúde que também tem um marketing de ser o melhor virou SUS...
Descrevi o fato que me levou ao hospital pra tratar dos pensamentos que tive enquanto permaneci por lá. Além de ficar mal impressionada com o péssimo atendimento, o falatório alto entre os enfermeiros, médicos e acompanhantes como se estivessem numa feira livre, me tocou muito a solidão de alguns pacientes. Não consigo entender como uma pessoa sente-se mal e não tem ninguém pra acompanhá-la a uma consulta médica ...
Foi aí que minha ficha caiu, porque já – mais de uma vez - procurei um centro médico de urgência sozinha. Além de marido e filhos tenho ainda amigos de igual forma encantadores, que sem sombra de dúvida teriam a maior presteza em me acompanhar, mas não, eu não quis incomodá-los. Isto pode ser uma desculpa pra minha arrogância e auto-suficiência, mas sinceramente penso que não. Acho que me incomodei tanto com a solidão daquelas pessoas porque era a minha também, quando esperei não precisar pedir, que alguém iria perceber que eu estava precisando de ajuda e estaria ali, pronto pra decidir por mim se eu deveria procurar ajuda médica.
Lembrei-me de inúmeras situações na vida em que esperei. Continuo esperando.
É a tal da expectativa que, em 19 anos de terapia, não consegui abolir. Racionalmente sei que a responsabilidade desta expectativa é minha, que ninguém tem a obrigação de corresponder a ela, mas ‘tá aqui a danada, me passando rasteira todo o tempo.
Vivo rodeada de pessoas que agem que nem eu – cuidam, cuidam, cuidam e não se deixam cuidar como merecem.
Cláudia, amiga do peito e pra sempre, sabe do que estou falando.
Tô lendo um livro muito lindo – “Comer Rezar Amar”. Gente, que inveja da coragem daquela mulher!!!!!!!! Largou T U D O, literalmente – casa, comida e roupa lavada, trabalho, família e amigos, pra viver uma experiência inexplicável. Como dizemos em minha terra, não dá contado...
Mas não quero pra mim não. Fico com inveja, mas é só pra fazer tipo. Vê se vou largar meu homem, minha ninhada, a cama que me aconchega, pra me aventurar nesse mundão de meu Deus? Vou é nada.
Agora, que dá vontade dá, viu?