sábado, 31 de dezembro de 2011

GIOVANA, BUNITINHA, ANO NOVO...

2011, 2012...Giovana, Bunitinha - uma se preparando pra chegar neste mundão de meu Deus, outra se preparando pra partir; Uma é filha, outra mãe; Uma não sabe nada, a outra sabe tudo o que precisou saber pra construir sua vida e merecer tanto amor como tem dos seus; Uma é metade, 5 meses na barriga de Aninha se formando aos pouquinhos - a outra é inteira numa família linda e amorosa, cabelinhos brancos e cheirosos, pele rosada e bem cuidada; Uma vai chegar com tudo, a outra vai deixar tudo e reencontrar seu grande amor; Uma tem tempo certo pra chegar - outra tem tempo incerto pra partir. Bom que seja assim. O ciclo da vida ser imprevisível.

Mudanças acontecem o tempo todo, umas boas, outras ótimas. Mudar é sempre bom.
Somos obrigados a reorganizar a vida do "zero", virar as gavetas, doar muitas coisas, perder outras tantas, achar muitas outras.
Minhas caixas da mudança foram uma surpresa constante. Nunca sabia se, ao abrir cada uma delas que foi embalada por meu amado marido, iria encontrar um sapato ou umas xícaras. Assim mesmo.
Ele foi eficiente quanto ao aproveitamento dos espaços, e onde cabia um dedo mindinho qualquer coisa era encaixada.
Enquanto isso o ciúme corre solto. Teve até amiga querendo alugar apartamento no mesmo prédio, pra não perder na concorrência da convivência. Bobagem. Amizade boa que nem a nossa não tem concorrência - é única e especial.

Comemoramos juntas a vida, a vizinhança, os segredos. Brindamos com bolo, espumante, sopa de lentilhas, whisky, macarrão, mousse de maracujá e, mais bacana, abraços amorosos e boa prosa.

Bunitinha ronca em sua cama branquinha, relaxada num sono reparador, depois de semana agitada.

Giovana mexe e balanga o barrigão de sua mama, que não sabe se leva Johan pra ver os fogos do reveillon ou se bota Artur pra dormir.

Aninha e Cláudia, mãe e filha, amigas amadas que merecem minha homenagem de ano novo. Uma pertinho, 4 andares de distância de elevador - outra lonjão, 500km de estrada ruim e esburacada. No meu coração emboladas no mesmo carinho.

Um 2012 abençoado, amigas!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Pouco troco, muita raiva

Em nenhum lugar do mundo acontece como no Brasil: troco só é considerado dinheiro a partir de 5 centavos, e olhe lá, de repente nem isso.
Hoje passei uma raiva federal, daquelas que depois a gente pensa "bobagem, não valia a pena me desgastar", mas aí não adiantava mais - já tava furiosa, chutando pedra.
Fui comprar um remédio na Drogaria Araújo da zona hospitalar, em frente ao Hospital São Lucas. Enorme. Acho que a maior de toda a rede, pelo menos que eu conheça. A conta deu 37,48. Beleza. Paguei com uma nota de 50,00. A moça do caixa me devolveu 12,50 sem a menor cerimônia, nenhuma balinha, nenhuma caixa de fósforos, nenhuma satisfação, nada. Perguntei se ela não tinha os 2 centavos porque achei desaforo - sempre acho, mas nunca falo nada.
Aí o bicho pegou, porque ela disse que 2 centavos só tinha com o gerente. Piorou a situação gritando pra outra que estava no meio da farmácia: "Liane, pega 2 centavos pra dona aqui lá na gerência!"Gente, o caixa é quem cobra e recebe, então porque 2 centavos tem que pegar na gerência? A Drogaria Araújo arrumou um jeito doido demais de surrupiar o troco da gente, né não?

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Barbies, Pégasus, aniversário!

Minha menina Lis faz 30 anos sexta-feira. Hoje fiz caminhada toda com ela no pensamento, me lembrando de cada coisa - que dei conta de lembrar, lógico - desse nosso tempo juntas como mãe e filha. Deu vontade de ficar andando dia inteiro, tantas são as lembranças.
Mas foi com alegria, sem "minanconia", como diz meu Walmir.
Ria de algumas coisas, como de quando decidiu fugir de casa aos 5 anos e a fuga durou um quarteirão; da viagem dela pra Disney com uma amiga aos 11 anos que dava um livro; da briga que teve com umas ex-amigas do Zilah Frota que me fez soltar os cachorros - literalmente - nas meninas que xingaram a minha...Quem cruzava comigo na pista devia achar que eu ria do que ouvia no rádio - caminho com fones ouvindo a BandNews ou CBN. Era não. Ria de mim e de outras lembranças.
Tem gente que diz que as crianças de hoje são menos felizes que as de antigamente. Por antigamente entenda-se anos 70, quando eu era criança. Discordo.
Pelo menos as minhas tiveram de tudo um pouco - vida de interior, contato com bichos de toda natureza, viagens bacanas, experimentos com comidas variadíssimas, quintal, fruta no pé e, de quebra, computador e toda a parafernália eletrônica. Tiveram sim, foi uma infância muito mais rica.
Pois então; na andança vejo um menino brincando na calçada com um carrinho de controle remoto enquanto a mãe caminhava. Aí aparece na memória como se fosse hoje eu, nas Lojas Americanas, esperando chegar o caminhão que traria o Pégasus, carrinho que todos os meninos com idade de 1 a 100 anos desejavam ganhar de natal naquele ano. E eu lá, na fila, porque os meus tinham certeza de que a carta que colocamos no correio tinha chegado ao destinatário Noel e ele não ia quebrar a promessa de trazer o presente.
Braços carregados - casa da Barbie, Ken japonês, Barbie negra, Pula pula, Bola do Cruzeiro, carrinho de bebê pras bonecas - e eu lá, na fila, esperando o Pégasus.
Será que este brinquedo ainda existe? O daqui de casa foi pra alguma creche, porque tudo o que não é usado passo pra diante. É bom. Sempre que entra alguma coisa nova sai uma outra.
A coleção de Barbies de Lis foi pra alguma menininha que ficou feliz demais, porque tinha de tudo, da cozinha ao carro, e ainda de quebra o noivo, porque tinha Ken de tudo que era jeito.
Hoje minha menina é uma mulher feita, decidida, competente, artista de mão cheia, feliz. Vive à beira do mar, cria jóias maravilhosas, cuida da própria casa e da vida que é boa demais. Penso que tao boa graças também à infância que teve.
Parabéns, fiotinha!

domingo, 25 de setembro de 2011

FOGO ENGOLE TUDO - DE NOVO

Meu marido escreveu no blog dele em agosto de 2007. Hoje, quatro anos depois, a história se repete. A Serra do Curral é, neste momento, uma cortina de fogo e fumaça. Corpo de bombeiros a postos, sem muito o que fazer. E a bicharada calcinada de novo. E a montanha inteira é transformada num só túmulo.
Mudou governador; mudou prefeito; mudou o ano. O que não mudou foi a providência definitiva pra tragédia ambiental não se repetir. Por quê?
E desta vez não teve meninos soltando pipas pra levarem a culpa.

07/08/2007

"A vegetação, neste inverno seco, era um palheiro esperando fagulhas.

Há dois anos o sistema de irrigação e proteção contra incêndios deixou de funcionar. E ficou assim.

Antes, esguichava água todas as tardes e todas as manhãs; durante 5 anos não ocorreram incêndios.

A MBR, mineradora que hoje pertence à Vale – e que devastou a parte anterior da Serra do Curral para extrair minério – responsável pela instalação e manutenção do sistema no alto da montanha - informou que ele não funcionou por conta de uma pane elétrica.

Mentira, já não funcionava há muito tempo. Mas nós ficamos calados.

Os bombeiros disseram que jovens, buscando recuperar pipas, atearam o fogo.

Eram jovens num Festival de Pipas promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte, na Praça do Papa.

Não sei. Foi uma coluna de fogo - de alto a baixo da montanha - repentina, furiosa pelo vento. Repentina. Não me pareceu coisa de jovens desavisados, desconfio, mas não afirmo contra.

Em vinte horas, 85% da mata virou cinza.

A Serra do Curral é o Corcovado de Belo Horizonte, vastos alqueires de montanha cobertos de vegetação, habitados por pequenos mamíferos – muitas espécies de roedores, micos, quatis - répteis, aves de toda espécie como beija-flores, canários e azulões; aves de rapina grandes e pequenas, os elegantes gaviões, corujas buraqueiras, urubus-rei. Todos perderam seus ninhos e filhotes nos alpendres de pedra da montanha de onde, todos os dias, levantavam seus vôos de variada qualidade.

O capim alto, pendoado em vermelho no outono e amarelo ressequido neste inverno, verde e lindo nas primaveras; vegetação característica do cerrado, arbustos, muitos pinheiros nos contrafortes baixos. E as orquídeas? Minúsculos pontos coloridos na escarpa. Nada mais, só esqueletos e cinza.

Desgosto.

Tudo agora está preto, calcinado, pedras negras espetadas como túmulos, silêncio dos pássaros, cheiro de animais em decomposição, de carne queimada. O vento carrega o cheiro brando da morte para dentro de nossas casas, empesteia o nariz de quem caminha no Anel da Serra.

Moro de frente para a montanha. Basta atravessar a rua e, ali mesmo, começa a erguer-se o monumento natural mais belo da cidade.

Dois quarteirões atrás fica o palácio das Mangabeiras, residência do governador de Minas Gerais, Aécio Neves.

Se ele estava lá na noite do dia 5, deve ter presenciado a tragédia. Mas ficou calado.

O prefeito da cidade, Fernando Pimentel, se viu, também se calou.

Jornais e Tvs receberam alguns alertas, não se manifestaram.

Nós, moradores, nada fizemos para prevenir a tragédia anunciada, reclamamos entre nós do inverno ressequido, da falta de esguichos da MBR/Vale.

Reclamamos em casa, lamurientos, mas não tomamos qualquer atitude.

A associação do Bairro foi inoperante, fomos inoperantes, não nos mobilizamos, alertamos, e o seco inverno transformou a Serra do Curral num fogueira de 20 horas que nos cobre a todos de vergonha.

Ao final, a culpa ficará com uns garotos que soltavam pipa."

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

CONTO DE FADAS

Nasci na época errada, tenho certeza.
Sou daquelas que acha que mulher nasceu pra parir, cuidar dos filhos e de
seu macho alfa, fazer quitandas pra encher as latas da despensa...e não
se preocupar com contas a pagar.
Copiei a postagem de Aninha - amiga linda e querida - no seu blog
Equilibradora de Pratos - passem por lá e vão ficar viciados na menina,
aposto - e fiquei pensando em quais de minhas amigas beijava e qual
comia a rã...
O texto é do Veríssimo, acho.

"Era uma vez... numa terra muito distante...uma princesa linda,
independente e cheia de auto-estima.
Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza
e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo era relaxante
e ecológico...
Então, a rã pulou para o seu colo e disse: linda princesa, eu já fui
um príncipe muito bonito.
Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformei-me nesta rã
asquerosa.
Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo
príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo.
A tua mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu
jantar, lavar as minhas roupas, criar os nossos filhos e seríamos
felizes para sempre...
Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée,
acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo
vinho branco, a princesa sorria, pensando consigo mesma:
- Eu, hein?... nem morta!"

OLHA ELA AÍ

"Vem, chuva. Eu sei que você consegue."
Artur fez a corrente no Face, eu fiz chuva de farinha no quintal, cada um tentou como pode convencer São Pedro de que não dava mais pra pingar colírio, lavar o nariz com soro fisiológico, hidratar a gente e os bichos, olhar pro sol com ar desolado e pedir licença a ele, que empacou no céu de BH. Depois de 96 dias secos tivemos uma noite deliciosa, fresquinha, uma manhã como nem me lembrava mais. Acordei cedo, enrolei a mangueira de regar horta e jardim - tomara que não precise dela por uns bons dias, peguei as roupas molhadas no varal numa alegria adolescente e comecei meu dia de trabalho grata às gotas abençoadas.

sábado, 10 de setembro de 2011

ALEGRIA ALEGRIA

Semana de alegria. Esta foi assim.
Teve de tudo um pouco : Visita deliciosa de minha passarinha; Almoço com a tchurma de Lis, que tinha até Nina no balanço enfeitando nossa cozinha, rimos até dar cãibra no queixo com os causos de Jojô - as fotos provam isto; Oficina de padaria com Elisa e Lelê; Raul amigo querido operou e já 'tá em casa se restabelecendo; Noivado oficial de Ana e Pedro- lindo, emocionante e mais que delicioso - perfeito!; Casa cheia de skatistas pro downhill da independência, hóspedes que vieram de muito longe - os daqui são de Santa Catarina e da Argentina; Artur bem classificado na tomada de tempo do campeonato hoje; Teodoro, o gato que adotei, está super bem adaptado e já passeia por tudo que é canto.; Mamãe solta no mundo, viajando pelo nordeste, ontem ligou de Salvador numa animação de dar inveja; Aninha, amiga carioca querida, vai ter outro fiote - que pelo visto foi encomendado em nossa casa, na última vinda deles em Julho.
Dá pra ter alguma tristeza com tantas coisas legais acontecendo? Dá nada.
Tô de volta ao blog. Alegre como sempre!

domingo, 26 de junho de 2011

DESTINO OU ESCOLHA?

Muita gente não acredita em destino. Eu acredito.
Como explicar um sujeito que para na estrada pra ver um acidente e é atropelado pelo próprio carro? Assim- desceu, puxou freio de mão, engrenou uma primeira, ligou pisca alerta, colocou triângulo, tudo direitinho, e foi pra frente do seu carro ver o caminhão que caiu na ribanceira. Vem uma carreta em alta velocidade e não teve tempo de frear; passou por cima do que tinha pela frente.
Hoje li uma crônica de Laura Mediolli que fala disto, e tem umas coisas que seriam engraçadas se não fossem trágicas. Uma delas: o cara morre atingido por uma tartaruga que caiu do céu.
Num programa de tv passa acidentes incríveis. Teve um nadador que estava treinando e morreu carbonizado. Como? Um avião do exército apagava um incêndio e buscava água no mar com um balde pendurado - encheu o balde exatamente onde estava o nadador e, claro, o piloto não viu, uma vez que o balde ficava embaixo do avião. Carregou a água até o incêndio e jogou com nadador e tudo no meio do fogo.
Mas não é só desgraça não, tem as coisas alegres. Como explicar uns encontros tão bacanas que acontecem entre amores, amigos, pessoas que jamais se encontrariam se não tivessem desligado o celular naquela hora, atravessado aquela rua, ido às compras naquele dia, assistido àquela peça? Tudo e qualquer ato nosso muda completamente nosso destino e o dos outros.
Escolha é o que você faz, destino é o que acontece decorrente do que fez. Acho assim.
Tenho uma amiga que está finalizando o casamento. Escolheu o caminho da coragem, embora a dita cuja lhe falte em alguns momentos e a amiga se desmanche em lágrimas. Natural que seja assim, porque a gente se acostuma e sente falta até do que é ruim.
Sobreviver a uma ou muitas crises no casamento é uma coisa; acomodar ou se apegar a uma matriz de sofrimento é outra bem diferente.
O desencontro deste casal 'tava escrito no destino? Sei lá, ninguém sabe, mas certamente as escolhas que fizeram ao longo da vida levou os dois a viverem a separação. E pode dar a chance ao casal de ter uma vida alegre, amorosa e leve com outros parceiros.
Falo com a arrogância de quem esteve lá - e passei por tanto pra achar meu par nesta vida.
O tempo todo laços se fazem e se desfazem. Um dilema moral nos coloca em dúvida quando desfazemos laços importantes, mas quando isto acontece é porque tais laços já se romperam irremediavelmente.
E é nesta hora que fica mais confortável acreditar no destino e derrubar qualquer culpa - sem se isentar da responsabilidade das escolhas, claro.
E se tinha que ser assim que seja.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

RICARDO ELETRO=DESESPERO!!!

Comprei hoje um eletrodoméstico na loja da Ricardo Eletro e, se arrependimento matasse, eu já estaria cremada numa hora dessas...
A vendedora foi solícita - claro, queria vender - e eu uma trouxa, porque como era uma coisa de que tava precisando muito, logo fiz negócio. Já tinha pesquisado em outras lojas e na internet, então decidi numa segurança de dar inveja. Subi as escadas (a contragosto, porque se fosse deficiente tinha desistido da tal compra) e catei logo um caixa pra pagar. Paguei.
Na hora de pegar a mercadoria na expedição cadê? Não tinha o que comprei. E o responsável pela entrega ainda debochou de mim e me mandou descer as malditas escadas e "caçar" a vendedora. Nada... a vendedora tinha saído pra almoçar.
Tentei resolver com calma e nada. Chorei até desidratar e nada também. Fiquei tão indignada que liguei pra polícia - nada também, não apareceu nenhum policial pra me socorrer. Nenhum funcionário sabia o que fazer, sendo que tudo o que eu queria era que cancelassem o débito no cartão ou me devolvessem em dinheiro, já que não tinham a mercadoria pra me entregar. Nada...
Cheguei na loja antes das 14 horas e saí às 16:50 sem nada resolvido. A única coisa que eu sabia era que ia morrer numa grana preta de estacionamento, e foi o que aconteceu - 48,00 por quase 4 horas.
Agora quem souber me diga: o que devo fazer? Mandei um e-mail no site da RICARDO ELETRO, mas minha amiga já me desanimou e disse que não vão me dar a menor confiança.É assim que trabalham, disse-me ela.
Tô sem o dinheiro, com o débito no cartão, sem o que comprei - acrescido de um prejuízo de 48,00 de estacionamento enquanto me desesperava na loja. E aí, sr RICARDO DEUS MENTIROSO, que faz aquela propaganda toda na TV e não banca o que fala? Cadê seu telefone, que vc diz pra gente ligar pra você? Será que só eu sou uma idiota de acreditar ou Luciano Huck também é, já que avalisa tudo o que você promete?

sábado, 28 de maio de 2011

De Walmir para Lis

Lis,

seus anjos de guarda são dois. Um fala agora, o outro depois.
Este que agora fala garante um momento justo, com brincos de prata e ouro, junta formas a esmo coisas foscas ou brilhares, que vêm de tantos lugares que nem os anjos se lembram, mas tocam em frente o processo.

Escreva então outro verso!

E sua mão obedece cegamente, comportada, e mesmo que não diga nada, no fim a forma te intriga.

O outro anjo te escuta, pondera, discute contigo, aconselha como amigo a escolher cada pedra, evitando o perigo de registrar cegamente as coisas que vêm à mente e comprometem depois.
Você tem muitos amigos, mas anjos de guarda, só dois.

Um deles volta à carga e te mantém artesando e criando e bebendo. Você é só instrumento de mensagens imediatas, de conclusões provisórias que, se não contam histórias, também não são um lamento.

Tens uma história simples, uma família normal, tens amigos, colegas e um afeto especial. Tens coisas diferentes, às vezes incompatíveis, milhares de neurônios e um curso superior que contigo se indispôs.

Tens um milhão de motivos, mas, anjos da guarda, só dois.

Rogas pragas criativas: “mas que puta que pariu”, xingas. No sábado ou no domingo e às vezes pela semana, dizes que vai à merda e oferece carona, mas se comporta direito. Paras no bar, se abastece, te dás o que bem mereces e não reclamas depois.
Você tem muitos defeitos, mas anjos de guarda, só dois.

Rende à fadiga do corpo, à meditação necessária. Para, limpa a área mais ou menos e vai descansar, finalmente. Come do último doce e liga a televisão. Viver assim, não é mole, mas tudo sempre se encontra no lugar onde se pôs.

E vais dormir. Boa noite

Tu e seus anjos. Os dois.

sábado, 14 de maio de 2011

CASA DAS MENINAS

Lis, minha flor mais linda, virou passarinha e voou.
Não foi assim, de repente, fugiu da gaiola quando fui colocar água fresca e comida. Não - foi de caso pensado e sem nenhuma precipitação.
Vinha falando na mudança há algum tempo, no sonho de ter seu canto, das amigas que queriam sua companhia na casa nova, no amor pelo mar e pelos ares do Rio, nas aventuras e desventuras vividas na cidade maravilhosa em infindáveis vezes que esteve por lá, umas experiências mais e outras menos alegres - mas todas elas muito bacanas.
Escolheu Bebel como parceira pra este tempo de vida. Muito lindo ver a empolgação das duas fazendo listas, programando a festa de inauguração, definindo lugar pros adornos que contam histórias da vida de cada uma, começando uma nova fase na amizade de longa data.
Passei uns dias por lá, ajudando a organizar a mudança. Quatro dias foi o bastante pra voltar com a sensação de dever cumprido, deixando o resto por conta delas. Não tenho nenhuma dúvida de que vão dar conta - e bem.
Cantinho do café, tv anos 60, cantinho da reza, caderno de receitas, parangolé, mata ao fundo, araras, baú e móveis antigos, mistura de livros e discos, tamborim, pinguim de geladeira, espumante e cachaça, cafeteira daquela terra distante que trouxe de viagem, copos lagoinha e ajeitos de bom gosto. Tudo lindo e cheio de causos pra contar.
Ficou linda a casa das meninas!
E minha passarinha vai aprendendo a construir e cuidar de seu novo ninho.

sábado, 30 de abril de 2011

ENTRE AMIGAS

Coisa boa é um grupo de amigas sair às compras, muito mais bacana do que qualquer homem possa entender. Foi o que fizemos eu, Alba, Juráila, Diana e Lêda num domingo sem marido ou filhos. O destino foi o Sams Club, onde nenhuma delas tinha ido antes.
De cara as emoções já começaram quando vimos os folhetos de promoções. Cada uma pegou um daqueles carrinhos enormes que no primeiro corredor já estavam praticamente cheios.
Nada escapava - de bacia pra fazer quitanda a banhos de assento; embalagens gigantes de papel higiênico (leve 48 pague 36), litros e mais litros de shampoo, malas de 8 rodinhas (perfeitas pr'as viajantes de plantão), pacotes de 5 kg de farinha de trigo pra fazer pão de cristo com a isca que Alba trouxe de Itambacuri (no colo, pra não supitar o fermento durante a viagem), ovos de páscoa de todas as marcas e tamanhos (que foram deixados pra trás porque, como diz Dica, toda mulher tem outras 2 dentro de si - a doida manda comprar tudo e a ajuizada manda devolver antes de passar no caixa), galões e mais galões de amaciante, detergente, água sanitária; pacotes de 1 kg de sazon, ração pra cachorro, tapetes pra banheiro, peças de presunto, chester, kits de toalhas de banho e rosto, tábua bacanérrima de passar roupas, ferro de passar profi ( com caldeira e tudo, igual de lavanderia), mantas inteiras de bacon, bacalhau, batatas fritas com carinhas smiles (em embalagens enormes!), caixas com sei lá quantos pacotinhos de bombril, estante com nichos para guardar brinquedos que virou organizadora pro closet de Jú (e que os filhos dela pensaram que era pra reciclagem de lixo), cabides, pão integral, sucrilhos...

Tem ainda as encomendas pras amigas ausentes que, sendo avisadas pelo celular sobre as promoções imperdíveis (telefonemas intermunicipais, diga-se de passagem), autorizam a compra sem ao menos ver (fraldas pro neto que ainda nem nasceu, achocolatados, aquela bebida que alguém falou que fortalece os ossos e impede a osteoporose, travesseiros).

Então tá - tudo comprado, é hora de guardar no carro. E pra caber? Lembrava uma gincana da tv anos atrás, que mandava colocar 20 pessoas dentro de um Fusca. Claro que ficou saindo gente - e mercadorias - pelas janelas, mas a alegria era maior que qualquer aperto. E o povo olhando, sem entender aquele bando de mulheres carregadas de compras falando todas ao mesmo tempo, rindo de chorar e combinando a próxima excursão.

E ainda tem gente que fala que felicidade não existe.

* Hoje é aniversário de meu vô Antonino - 103 anos. Parabéns, vovô!!!

sábado, 23 de abril de 2011

CHEIROS

· Itambacuri só tinha um carteiro – Zezé, que entregava as cartas de bicicleta. Quando ele entrava em férias tínhamos que ir ao correio ver se tinha correspondência. Os rapazes da cidade quase todos moravam no internato em Conceição do Mato Dentro e ficávamos ansiosas por notícias deles, nossos namorados. Telefone era muito caro e eles só iam pra lá nas férias – janeiro e julho, então a única comunicação era por carta. Eu namorava firme e tinha um trato de escrever todos os dias, então toda quinta recebia 3 cartas que foram escritas sexta, sábado e domingo anteriores e colocadas no correio na segunda daquela semana. Precisávamos ajudar a outra funcionária do correio a separar as cartas pra achar as endereçadas a nós. Lembro bem que a primeira coisa que eu fazia ao pegar no envelope era cheirar, porque a memória afetiva traz consigo o cheiro de quem escreveu. Nos últimos 20 anos as únicas cartas à mão que recebi foram escritas por mamãe, meu Walmir e Aninha Malfacini. Reconheci o cheiro de cada um deles nelas. E me emocionei a cada vez, que nem dia desses, comendo pequi.

· Cheiro de Pequi me traz a deliciosa presença de papai, me leva à infância sentada no chão com a cumbuca se enchendo de caroços - eu roendo e papai olhando, atento pra que não ferisse minha boca com os espinhos. No tal dia ele não estava aqui pra me olhar e furei a língua toda. Juráila se valeu de uma pinça e tirou os que conseguiu, mas muitos teimaram em se esconder e ficaram. Walmir brigou porque não tive cuidado e me machuco como uma adolescente estabanada, mas valeu a pena. Naquela noite sonhei com papai.

· Cheiro de fumaça me lembra as fogueiras em Castorina; cheiro de bebê, meus meninos pequeninhos; cachaça, a roça de Zé Lú; terra molhada, o quintal de vovô quando chovia; pele queimada, matança de porco na casa de mamãe; torra de café, comunidade Noiva do Cordeiro; cheiro de pão assando, minha casa desde sempre.

· Tem também os cheiros que nos remetem a lembranças ruins. A primeira coisa que acontece quando desgostamos de alguém é desagradar do cheiro. Aí não tem jeito. Acabou mesmo.

· Bom que os deliciosos são muito mais que os não bons. Cheirosas lembranças pra todo mundo!

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terça-feira, 22 de março de 2011

CHUP CHUP: R$ 0,40

CARRO LIMPO: NÃO TEM PREÇO

É doutor. E dos bons. Cismou de ser médico, estudou e até conseguir não desistiu. Já saiu da formatura arrumando a mala pra assumir um emprego no interior de SP. Poderoso o rapaz.
Biel comprou seu primeiro carro - tudo novo, inclusive a marca no Brasil. Um Cherry pretinho, completo, um sonho. Rumou pra Itambacuri tirando uma onda danada, e até esqueceu que olho gordo é uma merda.
Voltou pra Cachoeira Paulista feliz da vida, parou na padaria pra comprar pão e se refrescar com um chup chup. Chegou em casa - a casa fica numa ladeira - desceu do carro e foi abrir a garagem, só que pra não sujar a alavanca do freio com a mão melada não puxou. Pensou que o carro, além de chique e bonito, ainda devia ser inteligente. Não era. Enquanto abria o portão o sonho de Biel desceu a ladeira e só parou quando uma árvore entrou na frente.
Arregaçou o bonitão sem dó nem piedade. Bateu, se fodeu, mas continuou limpinho.
E sonho não tem preço...

sábado, 19 de março de 2011

EU, DIMAIOR E A COLCHA


Adiei o quanto pude voltar aos escritos no blog. Andava com o coração apertado, sossegado, preguiçoso, e só gosto de partilhar o que tenho vontade, sem obrigação nem cobrança.
Agora deu. Tô de volta.
Troquei de computador - o meu não digitava o tê, nem o ypsilone, nem os acentos, e ficava uma coisa esquisita ler e ficar deduzindo, então achei melhor dar o tempo pra voltar animada.
Meu ano começou meio atrapalhado, mas bom. Tava ansiosa pra fazer 50 anos, com inveja de quase todas as minhas amigas que passaram desta idade e ficaram ainda mais bacanas. Fiz - sem a sonhada comemoração, mas fiz. E penso que também fiquei mais bacana, que nem elas.
Artur ia fazer 18 e, pra mim, o rito da passagem dele pra maioridade era mais importante que qualquer outra coisa. Comemoramos do jeito que escolheu, com uns poucos amigos, durante o dia, pra que saísse à noite inaugurando seu documento de "Dimaior". Adoro ver ele e os amigos usando as expressões "dimaior" e "dimenor" - tem um que já fez 21 anos e o apelido continua sendo Dimenor. Engraçado, eu acho.
Muita coisa mudou desde o aniversário dele. Vi minha vida passando como num filme, me apeguei à lembrança de meus meninos todos pequenos, do nascimento de Tuti, de meu medo de não vê-lo adulto. Neura de mãe, mas era de verdade. Fiquei felizona por ele e por mim, assistindo ao tal filme e gostando do que vi.
A partir daí me senti mais livre pra algumas decisões, adiadas e adiadas e adiadas... Tem sido uma boa experiência ter todos os filhos adultos.
Ganhei de presente de natal uma colcha de retalhos, feita pelas mulheres da Noiva do Cordeiro. Recebi bem depois de dezembro, porque ainda não tinha ficado pronta. Foi encomendada por meu amigo oculto e muitas se encarregaram de fazer uma peça que fosse a minha cara - alegre, colorida, grande, florida. Ficou linda demais na minha cama. Ainda me pego emocionada quando entro no quarto e dou de cara com aquela cama enorme com tantas cores e boas energias, que as mãos de todas elas colocaram ali.
A colcha representa minha vida, que venho costurando cuidadosamente ao longo de meus 50 bem vividos anos.