terça-feira, 9 de novembro de 2010

DO BANCO DE LEITE AO ENEM

Vivi com meu "anjo fiote" a ansiedade dos exames do ENEM. Passamos um fim de semana por conta de arrumar lanches pra levar, conferir documentos e material, dormir mais cedo pra acordar bem disposto, ter uma alimentação balanceada, enfim, dedicamos 2 dias às tais provas, ele como candidato a uma vaga na universidade e eu como mãe cuidadosa.
Pra quê? Pra ver a desorganização e irresponsabilidade do MEC atrapalharem toda a preparação técnica e emocional dos alunos.
A escola onde meu filho fez as provas ficou sem luz até as 15 horas; desde 1/2 dia os candidatos estavam lá dentro e não puderam sair até que a energia elétrica fosse reestabelecida, já que a faculdade Pitágoras não tem geradores. Terminaram a prova às 19:30h, exaustos e estressados. Domingo foi menos tumultuado , o que não impediu que houvesse confusão em alguns locais de aplicação das provas, inclusive com um aluno fotografando as questões e enviando pelo celular sei lá pra quem. É, o aluno entrou com celular, o que era - ou deveria ser - expressamente proibido e fiscalizado. Não foi.
Agora a notícia de que os exames podem ser anulados. Não quero acreditar que o ENEM vai ser motivo de chacota sempre, que ano após ano os responsáveis provem sua incapacidade pra organizar o que é de sua alçada, com todas as condições pra fazer um trabalho bem feito e não o fazem. Mais uma vez, azar dos alunos que estavam bem preparados.
Quando vejo meu menino que foi amamentado por mais de 2 anos, bem cuidado até mandar parar, estudou em excelentes escolas, trabalha desde os 15 anos, criou um jogo na internet que já tem dado frutos, enfim, é difícil de acreditar que virou um homem. Assustei quando fui deixá-lo lá no primeiro dia, eu mais agoniada do que ele. Estava seguro, equilibrado, preparado pra tomar seu primeiro rumo na vida por sua própria e solitária escolha. Definiu o curso, fez a inscrição, matriculou-se no cursinho prévestibular, estudou por 9 horas todos os dias, deu conta até aqui. Vai dar sempre, aposto. É um sujeito bacana.
Chorei emocionada me lembrando dele pequeninho, mamando no peito e me dividindo com outras crianças que também amamentei - o primo que foi adotado e a mãe ainda não sabia o que fazer com o bebê que surgiu de uma hora pra outra; o filho do amigo do pai, que era prematuro e o leite da mãe secou por causa da depressão pós parto; os bebês internados e ainda na incubadora, que eram alimentados com doação de leite materno para o banco de leite.
Era até engraçado. O furgão da maternidade vinha à nossa casa uma vez por semana, deixava 7 mamadeiras esterilizadas e levava outras 7 cheias de leite materno congelado. Durante a semana eu ia enchendo com o que sobrava depois que todos mamavam - não desperdiçava nada. Primeiro mamava Tuti, depois íamos pra casa do prematuro, depois pra casa do que foi adotado, depois tirava e ia enchendo as mamadeiras. Nessa mexida já era hora de repetir a "operação", então imaginem o que mais eu fazia além de amamentar, tomar banho, comer e dormir? Nada. Não sobrava tempo. Durante mais de um ano foi assim, até que mantive só o de meu menino - ate o desmame, muito tempo depois.
Chegou uma hora em que não deu mais, não porque não quiséssemos, mas porque ele rejeitava a maioria dos alimentos, só queria peito, e puxava minha roupa na rua ou em qualquer lugar quando a fome batia. Demoramos pra dar conta de desapegar, e nem sei bem se demos. Temos uma ligação eterna como mãe e filho, eu sei, mas sinto ainda uma comunicação interna que é, muitas vezes, inexplicável. Um sempre sabe o que tá acontecendo com o outro, mesmo sem precisar contar.
Agora está ele aí, neste mundão de meu Deus, escrevendo sua história do jeito que escolheu. E eu aqui, com o colo.
E os trabalhadores do governo lá, sem saber fazer uma prova direito, deixando nossos meninos sem saber se o esforço que fizeram vai valer.
Dá pra entender?

3 comentários:

Walmir disse...

bonita estória sua e de Artur, hein? São sempre bonitas estas estórias de mães. E tomara que Artur consiga visto no passaporte do ENEM para a UFMG. Bem amamentado ele foi.

Anônimo disse...

Que lindo que voce escreveu!
Falando sério, não sabia que tinha amamentado tanto,e só agora entendo porque o bichinho chorava sem parar;ausencia da mãe que só ficava cuidando dos outros..............
beijos.Parabens pela escrita.Voce é 10.
Alba

Anônimo disse...

Oi Can

Que “São Jorge” continue dando-lhe mais energias para vc continuar escrevendo de forma tão “gostosa” de se ler.
“Vejo” as cenas do que vc escreve.

Obrigada e bjs,

Beth