sexta-feira, 16 de julho de 2010

HUMILHAR - NÃO PRECISA...

O assassinato de uma moça virou nome próprio: Bruno. Trágico demais e com sinais de terror. O rapaz está preso, bem como outros suspeitos. É tanta gente envolvida que dá pra encher uma penitenciária, porque todo dia surge mais algum.

Nesses casos policiais tem uma coisa que sempre me incomodou, e que passei a observar desde a prisão de PCFarias lá na Tailândia; quando o preso é famoso por qualquer motivo, de bom ou ruim, a polícia se esmera em mostrar pra todo mundo quem manda em quem.

Semana passada aconteceu uma situação que, no mínimo, me pareceu ridícula. O goleiro Bruno foi transferido do Rio pra Belo Horizonte já preso. Quando desceu do avião as autoridades policiais disputaram quase a tapa quem iria segurar no braço do goleiro, empurrando o sujeito pra frente, como se fosse pouco ele estar preso e a imprensa toda lá. Uma das delegadas quase despenca na escada de desembarque, pra não perder a chance de mostrar autoridade. Um apresentador de tv debochava - "Olhem ele aí, de uniforme laranja... e não é uniforme do time da Holanda não, é da penitenciária mesmo...". Chutar cachorro morto é demais pra qualquer um suportar, ainda que mereça ficar preso pelo resto de seus dias. O cara já tá fodido, querendo morrer, sem mais nada que preste a que possa se apegar, e dá-lhe humilhação!

Com o preso anônimo não tem disso. A pessoa é algemada e caminha sozinha, pra onde mandam.

Além de perder tudo – a liberdade, o conforto de casa, o convívio com família e amigos, parece que o preso ainda precisa perder a dignidade pra pagar o preço justo pelo crime que cometeu.

Precisa humilhar? Não precisa.

O filho de uma amiga estuda em Ouro Preto. Morou numa república quando passou no vestibular. Lá tem a tradição de que, pra ser aceito, o “bicho” – como é chamado o calouro – precisa se submeter a todos os caprichos dos veteranos. Além de fazer todo o serviço da casa, ser obrigado a sair pra comprar cerveja ou o que quiserem na hora em que mandarem e vestir o que os outros escolhem, tem que desfilar por toda a cidade com uma placa pendurada no pescoço. Não basta mostrar obediência dentro da casa. A submissão tem que ser pública.

Precisa humilhar? Não precisa.

Conheci uma pessoa alguns anos atrás que quase se tornou minha amiga. Era casada com um amigo de meu marido e chegou a ficar bem próxima. Dei linha nela quando vi a forma como tratava os empregados. Conosco era delicadíssima, mas com os subalternos se transformava numa ditadora. Chamava atenção xingando e chegou a despedir um deles na frente das visitas – dentre as quais eu. Sumi dela, virei pó. Ter respeito pelos empregados é o mínimo pra quem quer ser respeitado.

Precisa humilhar? Não precisa.

Um comentário:

Walmir disse...

Eu tenho pé atrás com todo esse estardalhaço da imprensa, mas não tem como evitar. É um ídolo acusado de crime. E ele não se defendeu. Pegou-se em silêncio. Então a única versão que fica é a versão do assassinato. E como a imprensa precisa de audiência, espetacularizam como podem e como não podem. Diferente do caso do meninos de Ouro Preto acusados de bárbaro assassinato inspirados em RPG, aquele jogo de heróis. Eles negaram o crime todo o tempo e acabaram absolvidos. Ao final, todos se humilham um pouco.